sábado, 31 de janeiro de 2009

Aventuras e desventuras...

Pois é... 8 dias depois aqui me sento novamente a tentar deixar o meu testemunho do meu dia-a-dia útil tão desinteressante e frustrante.
Se me recordo não enunciei a minha função em obra. Exerço aquilo que nunca ouvi ninguém dizer "esta profissão é espectacular". Exerço aquilo de que ninguém quer conversar, muito menos exercer. Exerço aquela nova/antiga função de quem já passou pelo desemprego ou nem tenha chegado a exercer outra área...

O novo emprego dos desempregados de outrora.
Como sabemos, se tirámos um curso superior e se estamos desempregados temos um breve conjunto de soluções às quais podemos recorrer:
- a solução n.º 1, a curto/médio prazo é choramingar junto dos amigos e família, durante meses a fio, que enviámos currículos e currículos para 1000 empresas e que nem para entrevistas somos chamados... (o que todos sabemos ou pensamos porque conhecemos sempre alguém nesta situação, ou já passámos nós próprios por tal);
- a solução n.º 2 é desistir de mandar currículos e viver até aos 50 anos na casa dos pais porque ou somos falsos Doutores (entendam-se todos aqueles que não são médicos, advogados ou doutorados) ou engenheiros dum curso constituído por várias disciplinas cuja utilidade é irreconhecível, e não somos aceites em trabalhos não qualificados, ou outros porque não se querem sujeitar a descer o seu nível que um dia foi adjectivado por "Superior";
- a solução n.º 3 passa por tirar um curso de 4 meses relativo a uma área da qual nada sabemos, nada de nada de nada;
- e por último a 4ª solução: ter uma ideia brilhantemente genial e renovadora e abrir um negócio por conta própria com o pouco dinheirinho que se tem na conta, para tentar singrar neste competitivo mercado.
Então que opções adoptei eu? Enquanto acabava o meu genial curso de Engenharia duma área de desempregados ou de um salário espectacular de 500€ (à excepção de alguns sortudos), meu pai me sugeriu que tirasse um curso que um colega dele de profissão tinha tirado e que lhe permitia ganhar uns cobres...
Juntamente comigo neste tal curso de desenrasque e Salvação milagrosa de desempregados estavam seres de várias idades e áreas profissionais. Todos com curso superior: geógrafos (3), engenheiros electrotécnicos, engenheiros de minas, gestores, psicólogos, engenheiros agrónomos, engenheiros de produção animal, historiadores, assistentes sociais, veterinários...até tipos com engenharia do ambiente que foram na realidade, os fundadores deste curso de salvação.
Foram meses divertidos, conheci pessoas que hoje posso chamar de amigos, e realmente tive a sorte de tirar o curso certo na hora certa, ou acredito eu que, em caso contrário, ainda estivesse nos trabalhos qualificados de 500€, ou a dobrar roupa numa loja juvenil com música a 80 dB pela mesma módica quantia...

Xiça...

Pois que acabo o curso e passadas 2 semanas de descanso meu telemóvel toca: um colega (que hoje é amigo) do curso salvador tinha-me conseguido a possibilidade de ir a uma entrevista que ele desistira de ir porque na altura estava empregado numa construtora bem posicionada no mercado. E impingiu-me o número porque já se tinha comprometido com a senhora, de que eu certamente iria entrar em contacto com ela a fim de marcar uma possível entrevista.
Que castigo. Mesmo não querendo, teria de ir a uma entrevista para trabalhar nas obras., não fosse de algum modo afundar uma possível futura cunha para o meu amigo.
PORRA. MAS QUE ENORME MERDA.
E lá fui eu. Segundo ele, iria para uma entrevista para o cargo de fiscal de obras... Mas que conhecimentos tenho eu de obras para ser fiscal?? Na entrevista cumprimentou-me uma senhora muito simpática com 2 beijinhos na face. Que chique.

Afinal a vaga não era para fiscal, mas sim para Coordenadora de Segurança em obra. Após uma hora de conversa, e dadas as condições que tanto me agradaram (um numerário de 4 algarismos), ganhei vontade de realmente ser seleccionada... Foi-me dito que haveria mais candidatos ao cargo. Mas aqueles zeros e a vontade de ganhar independência monetária estava a fazer os meus olhos cintilarem e... FUI SELECCIONADA!!!!!!! -> DINHEIROOOOOO!!!!!!!
Então e depois? Quando caí em mim já eu estava com um penico branco na cabeça, de bota tamanho muito superior ao meu, sozinha, no meio de 150 homens de várias etnias e cheiros diferentes e desagradáveis... E pior... sem ter qualquer conhecimento de termos técnicos para construção civil, nem regras específicas de segurança. EXCELENTE...

Uma moça minúscula nas obras, ignorante, Engenheira de nome (a parte do meu nome próprio poucos conheciam) nova de idade para a dureza do meio, e a caçula da equipa...
Pronto já ficaram a saber uma das minhas opções adoptadas para fugir a esse bicho cabeludo que é o desemprego... Houve ainda outra... mas fica para a próxima ocasião...

sábado, 24 de janeiro de 2009

Mulher nas obras sofre!

Pois bem... Finalmente criei um blog! Toda a gente tem um, e há tantos anos que se pode criar esta "coisa" que só agora realmente senti um empurrão forte para o fazer... Como trabalho nas obras e venho para casa extremamente cansada, tudo o que é extra-trabalho, dá imenso trabalho, portanto, como poderia ter arranjado forças para investir o meu precioso tempo de descanso a escrever um blog? DE LOUCOS!!!

Como o meu companheiro ontem criou um blog, eu, na minha condição de mulher, não posso ficar atrás! Então que decidi finalmente, criar uma coisa destas...

Não que já não tivesse pensado nisto anteriormente, mas agora é que foi (o instinto de aprendizagem por imitação foi muito forte!!!)

Decidi então que aqui vou colocando experiências do meu dia-a-dia no obral, na esperança que outras mulheres as leiam e deixem as suas experiências aqui reportadas... É que realmente, ser mulher e gostar de obra é coisa que não combina... Mulheres que dizem gostar, é porque ou nunca viveram experiências traumáticas, ou dizem gostar porque ficam bem vistas pelos que as rodeiam, são GRANDES mulheres, virís, o orgulho dos seus companheiros e papás porque gostam deste meio tão masculino...

Sinceramente... há coisa mais suja do que obra? Quando chove é um lamaçal, quando não chove é só pó, e toda a mulher, se bem que máscula (sim, porque fémea em obra tem tomates vistos pela sociedade) gosta de poder usar no seu dia-a-dia aquelas calças de ganga a arrastar no chão que assentam como um mimo no rabo, uma camisita de alças e... o colete tamanho XXL que a empresa disponibiliza para uma moça de 1,60 m, não favorece nada, o capacete é uma forma que quando removida reparamos que nossa cabeça parece um bolo acabadinho de desenformar... e as botas de biqueira e palmilha de aço... estragam as unhas dos pés, magoam os tornozelos porque só há tamanhos a partir do 40 a preços acessíveis, transformando-se em bóias de aço de 3 kg em cada pé... É muito lixado para uma mulher. Mais uma prova de existência de força viva na mulher...

Por agora fico-me por aqui. Já cansei muito os dedos... que trabalheira!